Por Simone Paiva – Analista de Comunicação – FUNDECC
Em um cenário onde a agilidade no diagnóstico pode salvar vidas e definir estratégias de saúde pública, o LabMol – Laboratório de Diagnóstico Molecular da Universidade Federal de Lavras (LabMol/UFLA), emerge como uma história de sucesso. Apoiado pela FUNDECC (Fundação de Desenvolvimento Científico e Cultural), o laboratório se consolidou como referência no diagnóstico molecular de determinados agravos no Sul de Minas. O LabMol/UFLA se tornou Centro Colaborador da Rede Estadual de Laboratórios de Saúde Pública de Minas Gerais – RELSP/MG para diagnósticos moleculares de doenças de interesse em saúde pública e atualmente realiza o diagnóstico molecular de 11 tipos virais atendendo à demanda de 50 municípios pertencentes à Superintendência Regional de Saúde de Varginha (SRSV). E a partir do próximo ano, uma nova missão: analisar a qualidade da água.
Mas como uma estrutura de ponta, que já realizou mais de 6.500 exames apenas de janeiro a setembro deste ano (uma média de 750 exames/mês), foi parar dentro de uma universidade pública? A resposta remonta a um dos períodos mais desafiadores da saúde global: a pandemia de Covid-19.
Do Urgente ao Estratégico: A Origem do Labmol
“O LabMol foi um dos contemplados com os recursos obtidos pela UFLA em Termo de Execução Descentralizada (TED) com o Ministério da Educação (MEC), e foi estruturado para desenvolvimento de ações de enfrentamento à Covid-19, com o objetivo de auxiliar os órgãos de saúde pública da região de Lavras no combate à pandemia”, conta o professor e coordenador do LabMol, Bruno Del Bianco Borges. “O laboratório foi estruturado visando a realização de testes em amostras biológicas, pela técnica de reação da transcriptase reversa seguida pela reação em cadeia da polimerase (RT-PCR) para diagnóstico molecular de infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV2).”
Um alto investimento foi direcionado para a estruturação do laboratório, e de início, o laboratório atendeu a um fluxo para realização de testes diagnósticos pela Rede de Apoio Técnico Laboratorial Covid-19, coordenada pela Fundação Ezequiel Dias (FUNED) e pela Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG), em conformidade com a SRSV, atendendo critérios e demandas definidos pela SES-MG. “Os municípios coletavam e enviavam as amostras para o laboratório. Ao invés de seguir para Belo Horizonte, o diagnóstico era agilizado aqui”, explica Bruno. Com o fim da pandemia e da rede, um novo desafio surgiu: como manter vivo esse patrimônio de alto valor e potencial?
A resposta veio com a descentralização da vigilância laboratorial estadual, a qual estabeleceu diretrizes para a habilitação de laboratórios candidatos à Centros Colaboradores (CC) da Rede Estadual de Laboratórios de Saúde Pública de Minas Gerais (RELSP/MG). O LabMol cumpriu rigorosamente todas as exigências sanitárias e se tornou um CC oficial, firmando convênio com a Secretaria de Estado de Saúde e recebendo repasse de incentivo financeiro para o custeio da realização de análises diagnósticas de agravos de interesse da vigilância em saúde pública, por meio de atuação em rede.
Evolução Constante: De 1 para 11 Diagnósticos
O que começou focando apenas na Covid-19 transformou-se em um centro de diagnósticos múltiplos. Hoje, o LabMol é habilitado para o diagnóstico de:
· Arboviroses: Os quatro sorotipos da Dengue, Zika e Chikungunya.
· Vírus Respiratórios: Covid-19, Influenza A (e seus subtipos H1N1 e H3N2), Influenza B e Vírus Sincicial Respiratório (VSR).
“Saímos de um diagnóstico e fomos para onze”, orgulha-se o coordenador. E a expansão não para. O laboratório está em fase de habilitação para diagnosticar Febre Amarela e, a grande novidade para o próximo ano, iniciará a análise da qualidade da água para os municípios da regional.
O “Padrão Ouro” que Acelera o Tratamento e o Combate a Epidemias
Diferente dos testes rápidos feitos nas UPAs, o LabMol realiza o diagnóstico molecular, considerado o “padrão ouro” pela sensibilidade e precisão.
“Com o teste molecular, nós conseguimos detectar o vírus no primeiro dia de sintoma”, destaca Bruno. “E o grande diferencial é a especificidade. Para dengue, por exemplo, o teste rápido não consegue diferenciar qual o sorotipo, se é tipo 1, 2, 3 ou 4. Com o diagnóstico molecular nós conseguimos identificar exatamente qual o vírus está causando aquela infecção.”
Essa precisão é uma arma poderosa para o controle epidemiológico. “Esse ano, nós detectamos o sorotipo 3 da dengue, que não circulava na região. Isso acende um alerta, porque a população provavelmente não tem anticorpos para esse sorotipo, aumentando o risco de uma nova epidemia. Assim, as autoridades podem agir de forma direcionada“, completa.
A agilidade é outra vantagem crucial. Em situações normais, os resultados saem em até 24 horas. Durante picos e epidemias, esse prazo pode se estender para três dias – ainda assim, um tempo drasticamente menor do que quando os exames eram centralizados apenas na Funed.
A Universidade Pública Gerando Benefício Direto para a Sociedade
Para o professor Bruno, o LabMol é a materialização do papel social da universidade pública. “Vivenciamos um momento em que a universidade pública foi injustamente desvalorizada, sob a falsa impressão de que pouco se produz aqui. No entanto, é essa mesma instituição que oferece, à própria população, serviços e resultados de altíssimo nível, como os exames realizados com tecnologia e conhecimento de ponta“, reflete.
“É importantíssimo levar isso para a população, mostrar o quão importante é uma universidade pública de qualidade. O governo entra com o recurso, e nós entramos com a nossa expertise, capacidade técnica e os equipamentos para levar um benefício direto para a sociedade.”
Com uma equipe enxuta de quatro pessoas fixas – auxiliadas por alunos de iniciação científica e mestrado –, o laboratório já planeja a aquisição de novos equipamentos para lidar com os períodos de pico. E o futuro é ainda mais promissor, com a previsão da instalação do Hospital Universitário da UFLA, para o qual o LabMol pretende ser um suporte essencial em diagnósticos.
O LabMol é, portanto, muito mais que um laboratório. É um centro de excelência que traduz o conhecimento acadêmico em saúde pública de qualidade, agilidade no cuidado e proteção para toda uma região, mostrando que o investimento em ciência e educação retorna à sociedade em forma de vida.

Obrigada pelo apoio.

Que bom que vc gostou!

Realmente foi apaixonante fazer essa reportagem.

Parabens, Graça. Ótimo artigo. Tenho muito orgulho de voçe.

Somos honrados em participar e divulgar a pesquisa da professora Graça.

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